A problemática da universalização do acesso à leitura

Enquanto o Brasil ainda luta para universalizar o acesso às bibliotecas escolares — com 63% das instituições de ensino sem esse espaço essencial —, algumas escolas seguem na contramão da negligência pública e mostram que é possível transformar o ambiente escolar por meio dos livros. A Fundação Darcy Vargas é uma dessas exceções inspiradoras. Na FDV, a biblioteca é mais do que um espaço de consulta: é um ponto de encontro, de descoberta e de convivência. Com mais de mil títulos disponíveis, entre obras literárias, biografias, livros de pesquisa e acervos culturais, o espaço é utilizado diariamente pelos alunos. A biblioteca faz parte do cotidiano pedagógico da escola e é um dos pilares do projeto de formação integral da instituição. Em um país onde a realidade de muitas escolas ainda se limita a salas improvisadas com estantes quebradas e livros doados, como é o caso da Escola Estância de Planaltina (DF), a Fundação Darcy Vargas aposta em estrutura, mediação e afeto para cultivar o hábito da leitura. “Aqui, nossos alunos não apenas leem. Eles se envolvem, discutem, produzem e se expressam por meio da literatura”, afirma a coordenação pedagógica. O impacto da restrição de celulares e o papel da biblioteca A importância desse tipo de espaço ganha ainda mais destaque no contexto da recente Lei nº 15.100/2025, que restringe o uso de celulares nas escolas — inclusive durante recreios e intervalos. A norma, em vigor nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, tem provocado um fenômeno inesperado: o aumento expressivo da presença de alunos nas bibliotecas escolares. Segundo bibliotecários dessas regiões, os estudantes que antes passavam o tempo nos celulares agora se voltam para os livros, jogos pedagógicos e rodas de leitura. Embora ainda não vigente no Rio de Janeiro, a tendência reforça o papel fundamental da biblioteca como espaço de acolhimento e descoberta. Experiências registradas em escolas de Belo Horizonte e Cariacica mostram que, sem as distrações digitais, os estudantes estão se reconectando com o prazer de ler — inclusive adolescentes que antes resistiam à literatura. Desafios e o futuro da leitura Esse cenário aponta para uma mudança de comportamento que precisa ser acompanhada por políticas públicas, formação de professores e valorização das bibliotecas escolares. Segundo o Ministério da Educação, o novo Plano Nacional de Educação prevê a universalização das bibliotecas até 2028, por meio do Sistema Nacional de Bibliotecas Escolares. Mas o ritmo atual está longe de ser suficiente: seriam necessárias mais de 3 mil novas bibliotecas por mês para cumprir a meta. Na Fundação Darcy Vargas, o futuro da leitura já começou. “A biblioteca dá asas aos nossos alunos”, resume Camila Crispim, do conselho diretor da escola. “É um lugar onde eles encontram personagens, ideias e mundos que os inspiram a sonhar — e também a transformar a realidade.” Em tempos de excesso de estímulos digitais e déficit de atenção, a experiência da FDV reforça que investir em bibliotecas é investir em autonomia, criatividade e educação de verdade.